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quinta-feira, 18 abril, 2024

Deixa Maria viver e amar

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Falar ou escrever sobre esse assunto não é nada fácil. Organizo as ideias e recorro a Maria de Milton Nascimento. É dela que vem à lembrança de quem traz no corpo a marca e mistura a dor e a alegra de ter fé na vida. Rabisco duas ou três palavras, mas o grito de socorro de Carla Zandoná abafa a voz de Bituca.
Paro, sento e choro. Dois minutos e quantas cinco milhões de Janaínas, Andreias, Carlas e Adrianas não estarão agora tomando pontapés, murros e socos. Assusto com a porta que bate, como se estivesse acordado de um pesadelo. No sonho ruim, um fisioterapeuta, do tipo Brutus brutamonte, esmurra covardemente a mulher e termina por arremessa-la do 3º andar.
Fui até a rua buscar ar para depois, quem sabe, continuar escrevendo. Procurei uma praça perto de casa, onde acredito encontraria paz. Aposta certeira, logo me vi em meio ao silencio que, ao pé do ouvido, me sussurrou rogando paciência. Sinto o cheiro doce de jujubas, viro para o lado e me deparo com o rosto angelical de uma garotinha com olhos de jabuticabas.
Para o mundo ela não tem nome e que os orixás a conserve assim. Se for para revelar sua identidade que seja como uma promissora escritora, chef de cozinha ou medalhista dos 500 metros rasos. Marcas no rosto, apenas as deixadas pelo sorriso ou pela passagem do tempo.
E quando a doce menina se transformar numa atraente mulher, que silenciem todas súplicas de desesperos e, definitivamente, cessem as brigas de casais. Mas alguma coisa está fora da ordem: só na semana que a Lei Maria da Penha completou 12 anos, cinco mulheres apanharam pela última vez e indefesas foram caladas.
Penso até quando eu e o mundo ainda vamos chorar com aquele pai – ou a parte que sobrou dele – que lamenta não ter salvo a vida da filha a tempo. Volto aquela praça e lembro da garotinha, da minha sobrinha e do futuro dessas meninas.
Amanhã pode ser tarde demais. Hoje é a hora certa de fazer a diferença. “Homem que é homem não grita, ofende, chuta, nem da tapa na cara de uma mulher”, ensina o pai de verdade. “Garota de cabelo enrolado, você merece respeito. Jamais aceite agressão de um homem”, orienta a mãe que esbanja amor próprio.
Como eu suspeitava, foi difícil começar esse texto e mais ainda está sendo concluir. Vou terminar sendo otimista e de Milton, novamente, me remeto à Maria que possui um dom, uma certa magia e uma força que nos alerta: toda mulher merece viver e amar, como outra qualquer do planeta.

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