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sexta-feira, 29 março, 2024

É tempo de esperar o meu dia chegar

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Minha relação com o tempo sempre foi material rico para análise. Os atrasos às sessões eram tão constantes que até minha terapeuta sugeriu leva-los ao divã. Tudo em vão. Concluímos que melhor mesmo era dar tempo ao tempo e esperar pelo entendimento que viria na hora certa.
Mas eu e o tempo vivíamos, e acho que ainda vivemos, em pé de guerra. Às vezes eu corro dele, as vezes ele corre de mim. E assim correm as horas e eu sempre à espera que ele – o tempo – me traga algo de bom.
Nasci angustiada, não sei como escapei de ser um bebê prematuro. Atropelada pela pressa, o importante era aproveitar cada milésimo de segundo. Se desse para assobiar e chupar cana, melhor ainda. Acabei levando a fama de ser a última a sair da festa, só terminar quando o garçom levantasse a última cadeira do bar.
Mas a vida não é assim. O tempo caminha a uma velocidade que não é a sua, que nem sempre você vai acompanhar. Ou porque não pode, ou porque não quer, ou porque não consegue, ou porque decidiu acatar o conselho da analista e esperar o tempo desvendar qual deve ser o próximo passo.
Virei adolescente e num insight freudiano conclui que até aquela minha mísera existência, havia perdido tempo demais. Muitas pessoas me atrasaram. Insisti em correr para uma direção onde ninguém me esperava. Insisti em querer viver um único momento por dois.
Agora adulta descobri, a tempo, espero, o motivo de estar sempre atrasada: adiava a mim mesma para agradar o mundo. Eu nunca fui minha prioridade. Esperei ser a prioridade de alguém que sempre me deixou esperando.
“Atrasei a mim mesma, enquanto no relógio do chefe, o tempo não é de questionamento, bate o ponto e pronto, porque não é momento do aumento. Ser realizada no trabalho ainda não é meu departamento”. Isso é um plagio, neste momento, quem sabe com o tempo isso possa se transformar.
Atrasei a mim mesma, quando o grito do meu relógio biológico foi abafado por uma procrastinação aguda que acabou por adiar o sonho de conceder um filho. Eu fui adiando, adiando até ficar tarde demais. Talvez o fruto do meu ventre não chegue a tempo.
Calma! Não era a minha hora. Repetia a mim mesma incansavelmente.
 
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Fui esperando, esperando… olhei do lado e comecei a me comparar. Quanto mais o quintal da vizinha eu olhava mais eu me atrasava. Parecia que eu estava esperando alguma coisa ou alguém. Mas o que era meu, nunca foi realmente o que eu esperava.
Nunca reclamei, mas incomodava o relógio da sociedade me cobrando a hora certa de chegar. A minha hora certa não é a mesma da minha vizinha, nem será a sua que lê este texto.
Respeitar o meu tempo, eis a sacada do momento. Nada de adiar compromisso. Vou tentar convidar, vai que chegou a minha hora. Afinal, já diria o outro: “não existe hora errada quando o compromisso é com a vida”.

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