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quinta-feira, 28 março, 2024

Sua Majestade, a Língua

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Embora a Língua Portuguesa esteja no âmago de qualquer comunicação entre nós, deparamo-nos constantemente com suas incongruências. Na forma de falar e na forma de escrever. É complicada por natureza – quase todas as palavras derivam do Latim e do Grego, e mesmo assim há quem a complique mais ainda.
Adotou-se, por exemplo, o tratamento de Vossa Excelência para qualquer borra-botas que ocupe algum cargo. Poderia ser substituído, por questões de respeito, por Vossa Senhoria. Excelência deveria ser usado somente para quem é excelente, acima do normal.
Nem todos os juízes podem, em tese, serem chamados de Meritíssimo. Para ser meretíssimo precisa ter méritos. A maioria os tem. Reitores de universidades precisam (?) ser chamados de Vossa Magnificência. Seriam magníficos. Essas questões passeiam nos tratamentos formais.
Ilustríssimo, por exemplo, deveria ser única e somente para membros da nobreza brasileira. Que nem existe mais. Mas qualquer correspondência oficial terá um Excelência ou um Ilustríssimo para dar título ao destinatário. Algo protocolar, esquecido e ignorado.
E no dia a dia? Há advogados recém-formados que adotam como primeira providência a placa para o escritório. Não poupam o Doutor antecedendo o nome. Doutor é para quem tem doutorado. Aqui no Brasil. Em Portugal é doutoramento. O pior é que a moda do doutor virou praga. Todo mundo é doutor sem nunca ter sido.
Há também jornalistas especialistas em criar normas. Uma mulher que represente seu país em outro sempre foi embaixatriz. Mas aí algum iluminado decidiu que embaixatriz é a mulher do embaixador. A representante de fato é a embaixadora. Dentro dessa lógica insensata, conclui-se que atriz não é a mulher que representa, e sim alguém casada com um ator. A que representa seria a atora.
Meretriz, todos sabem, é a mulher que faz sexo em troca de alguma vantagem, normalmente dinheiro. E os homens que fazem o mesmo? Jamais serão chamados de meretrício. Que seria o correto. Ganham eufemismos, como garoto de programa. Tal qual as mulheres. Nâo “existem” mais prostitutas. Agora são garotas de programa. Acompanhantes. Escorts.
Há ainda jornalistas que se esmeram na arte de criar palavras. Trocam o correto, o sensato, o compreensível, pelo duvidoso. E sempre com extremo mau gosto. Não os neologismos. Alguns até aceitáveis, outros fadados às poucas linhas de uma notícia mal feita, sem nexo.
São elementos pernósticos que julgam esbanjar erudição. Não passam de incompetentes, inúteis pesporrentes. Felizmente já há deputados se mexendo para acabar com essa empáfia. Pretendem simplificar as coisas, os tratamentos. Tomara que consigam.
Enquanto essa hipocrisia se agiganta, certamente Luís de Camões e Tomás Antônio Gonzaga e até o padre Vieira continuam se revirando em suas tumbas.

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