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Jundiaí
quinta-feira, 28 março, 2024

Na terra dos papudos, da uva, do passado

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O fim da linha Santos a Jundiaí trazia esperança e oportunidades para ferroviários e sonhadores. A “Terra da Uva” também era de tijolo, cerâmica e cimento, das tecelagens, metalúrgicas e alimentícias. Nos anos 1950, ergueu-se o “Bolão”, a maior estrutura de concreto em forma de concha no país e levantada em cordas de aço. Jundiaí era das pioneiras em vilas urbanizadas feitas para moradia de operários. Em volta da tecelagem Argos, casas de alvenaria, com dormitórios, banheiro, varanda etc. Os vizinhos, todos, se conheciam e as crianças brincavam nas ruas.

Na Vila Progresso, as centenas de casas da Dragão Mecânica e da Japi foram feitas pelo ‘mau patrão’ J.J. Abdalla. Junto à Vigorelli, da família Franco, casas abrigavam os metalúrgicos que fabricavam máquinas de costura movidas a pedal. Na Agapeama, um dos primeiros condomínios habitacionais planejados do Brasil, o conjunto IAPI de 300 sobradinhos geminados. As terras dos De Vecchi e dos Menten ganharam o nome de Agapeama porque ali havia uma fábrica de formicida (mata formiga) com este nome. A vila Scavone também era aconchegante – como ainda é, atrás da garagem do Cometa.

Uma vila operária se formou atrás do cemitério e ao lado da estação de trem. Todas elas davam continuidade à aglomeração urbana iniciada com as casas do Núcleo Barão, a Colônia, construídas para os imigrantes no início do século. Naqueles anos, a vida das cidades girava em torno do Centro: da matriz irradiavam os fatos culturais e a moda. No mesmo local até hoje, o exuberante Cine Teatro Polytheama mostrava filmes, peças e shows. De um lado da catedral, o Cine Marabá; do outro o Ipiranga. Entre eles, os “points” eram a padaria Paulicéia, a lanchonete Mirim Dog e o Dadá.

Na Vila Arens, havia o cine República; na Ponte de São João o Alvorada e na Agapeama, o cine Áurea. Todos chamados de “purgueiros”, que passavam as “fitas” depois de exibidas no Centro. Os filmes enlatados arrebentavam várias vezes, parando a projeção e acendendo luzes – para desmascarar os enamorados. O “Canal 100” mostrava, antes do Tarzan, em branco e preto, as jogadas de Pelé e Garrincha meses após a Copa de 58 na Suécia, ao som do “Que bonito é … na cadência do samba”.

As calças jeans surgiram em Jundiaí na década de 60. Eram americanas da marca Lee, muito cultuadas, sonho de consumo e de “status”. Quando os militares deram o golpe de 64, surgiram por aqui as calças Wrangler americanas e a Rancheira da brasileiríssima Alpargatas. Esta era de um brim azul marinho, sem botões de metal, que, diziam, era feita à noite na fábrica da Argos – quando aparecia o “diabo” no telhado. A velha Argos foi uma das maiores tecelagens das Américas e fabricou um jeans chamado Free, tão bonito e bom quanto os americanos.

Os jovens compravam discos de vinil – bolachas pretas do tamanho de uma tampa de privada, que tocavam a música quando as agulhas de uma vitrola giravam nos sulcos. Quem vendia os pesados discos de 78 rotações (RPM) era a Casa Carlos Gomes na rua Barão. Todos queriam ter uma Lee, Levis ou até uma Free, mesmo contrabandeada. O Credi Rei vendia casimira, não jeans, nem a loja Ducal, só calça de tergal e gravata borboleta (black tie). Uma década depois, a família Restum começou a vender jeans em casa, na Baronesa do Japi. Comprava-se sapatos na sapataria Relâmpago, lojas Martins ou Checchinato. A Guarda Municipal andava de bicicleta e com o carro preto13. Em frente à Paulicéia, paravam cadillacs, motos e lambretas.

Para aprender a datilografar na máquina de escrever, havia a escola Remington no Centro. Para calcular, máquina de somar tocada a alavanca, sem eletricidade. O comércio de sapatos e jeans originou grandes redes de lojas jundiaienses. O armazém de secos e molhados dos irmãos Russi começou na Agapeama e tornou-se rede de supermercados. O Polytheama foi restaurado e a Argos continua um ícone da cidade; centro cultural que ainda lembra a velha fábrica de jeans.
Por Galdino Mesquita

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