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quarta-feira, 24 abril, 2024

Cinco cidades comemoram emancipação na terça

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Todas se desenvolveram ao lado das ferrovias, mas, autônomas, escolheram diferentes vocações econômicas
Os tempos eram outros, bem diferentes. Em 1965, um ano após os militares terem feito uma revolução que precisava de apoio popular, havia lugares, chamados distritos, insatisfeitos com o que a matriz lhes dava. Distrito era considerado uma espécie de vila bem maior, com alguma autonomia. Havia até a figura do vereador distrital.
Até aquele ano, Jundiaí era bem maior. Tinha os distritos de Itupeva, de Várzea Paulista, de Campo Limpo e de Louveira. Antes, em 1948, perdera um distrito, o da Rocinha, que se tornou a cidade de Vinhedo.
Itupeva, servida por algumas estradas de chão batido e pela Estrada de Ferro Sorocabana, com ramal que partia da Praça Mauá, em Jundiaí (conhecida como Largo da Estação), vivia basicamente de agricultura. Seu centro, perto da estação de trem local (que depois viria a ser sede da Prefeitura), tinha uma rede de esgoto precária, numa só rua. A cobrança por melhorias era grande, e o governo central, em Jundiaí, parecia não se importar muito com o distrito.
Louveira também era agrícola, com população predominante de descendentes de imigrantes italianos. Até o final dos anos 1940, havia poucos meios de ligação com outras cidades. A Companhia Paulista de Estradas de Ferro tinha lá sua estação, onde alguns trens paravam para embarque e desembarque de passageiros. Havia ainda a Itatibense, outra estrada de ferro que ligava Louveira a Itatiba. Uma viagem demorada, cansativa e aventureira pelas montanhas que as separaram.
E havia uma estrada de rodagem, a Estrada Velha de Campinas, uma antiga ligação entre a Capital e Campinas, que cortava cidades pelo meio. No final dos anos 1940 foi inaugurada a Via Anhanguera, toda asfaltada (em muitos trechos concretada), que dividiu a cidade de vez. Mas trouxe mais progresso – foi quando a cidade ganhou um dos primeiros restaurantes de beira de estrada, o Frango Assado. Logo depois, o Lago Azul.
Seguindo o trem em direção à Capital, saindo de Jundiaí, havia Várzea, uma cidade que teve seus primeiros habitantes ainda no final do século 18, antes da construção da Estrada de Ferro Santos a Jundiaí, que os ingleses batizaram de São Paulo Railway quando a inauguraram, em 1867.
Até então, Várzea tinha muitas olarias e até uma destilaria construída por franceses. A chegada da estrada de ferro mudou muito o lugar. O trem era tudo, e junto com ele chegaram os primeiros cabos de telégrafo.
A próxima parada era Campo Limpo (ainda não tinha o Paulista em seu nome), onde também agricultores se viravam como podia. Muitos jundiaienses (e todos eram jundiaienses) usavam o rio para pesca e lazer, mas a chegada da SPR também produziu mudanças em Campo Limpo.
Continuando essa viagem, passa-se por um túnel, em Botujuru, e chega-se a Francisco Morato, na época distrito de Franco da Rocha. Era um distrito meio agrícola, meio comercial, meio tudo e meio nada. Só que a construção da estrada de ferro, nos anos antes de 1867, começou a mudar as coisas.
Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, comprou algumas terras por lá e os ingleses, donos da SPR, montaram acampamento para os operários encarregados de construir o túnel, aberto na picareta, marreta e um pouco de dinamite. O trem também produziu seus efeitos em Morato.
Francisco Morato foi advogado, professor de Direito na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, e só não foi governador da Província de São Paulo (cargo equivalente ao atual governador) porque não quis – preferiu ser secretário de Justiça.
Voltando ao ano de 1964. Foi um ano de muita inquietação política. Quatro anos antes, os brasileiros haviam escolhido Jânio Quadros presidente da República. João Goulart, o Jango, foi eleito seu vice – as eleições eram separadas. Em agosto de 1961 Jânio Quadros renunciou, e para Jango tomar posse foi um perereco.
Primeiro os ministros militares e seus aliados civis – dentre eles o mais proeminente incendiário Carlos Lacerda, da UDN – fizeram Jango engolir o sistema parlamentarista, onde o presidente faz de conta que manda. Um plebiscito voltou o país ao regime presidencialista.
Jango foi para o confronto, incitando sindicatos e ligas camponesas. Tinha o gaúcho Leonel Brizola, seu cunhado, como um aliado e tanto. E tinha também a mulher, Tereza Goulart, até hoje considerada a mais bonita primeira-dama que passou pelo Brasil. Mas os militares tinham os canhões.
No final de março de 1964, o general Olympio Mourão Filho precipitou a revolta, saindo de Minas com suas tropas para tomar o Rio de Janeiro, que já conspirava abertamente. Logo depois, outro general, Amaury Kruel, que comandava a Região Militar paulista, aderiu e aí não teve jeito. Jango foi embora, uma junta militar assumiu, e depois o marechal Castello Branco foi eleito presidente.
Nem todo mundo gostava, e os militares precisavam de apoio. A insatisfação dos distritos, que vinha de tempos antes da revolução, com plebiscitos pela separação, foi a cereja do bolo. No dia 21 de março de 1965, os cinco distritos foram emancipados e se tornaram cidades.
De lá para cá suas vidas mudaram. Francisco Morato recebeu (e já recebia há tempo) migrantes nordestinos que procuravam a Capital, principalmente, para trabalhar na construção civil. Com isso, seu comércio cresceu muito, e hoje é praticamente sua principal fonte de renda.
Campo Limpo ganhou o Paulista para ficar diferente do bairro de Campo Limpo da Capital. O distrito já vinha bem, mas quem levava vantagem era Jundiaí. Em 1961, por exemplo, a Krupp inaugurou sua fábrica por lá, com direito a discursos do presidente da República, Jânio Quadros, e do governador Carvalho Pinto, o mesmo que deu início ao processo de destruição das estradas de ferro.
Campo Limpo se industrializou muito nesses anos, mas a Krupp continua sendo sua principal empresa. Tem uma das maiores faculdades da região e um comércio dinâmico. Nunca teve problemas com água, pois captava diretamente no Rio Jundiaí, que por lá nunca ficou poluído a ponto de comprometer.
Várzea Paulista viveu durante muitos anos somente do comércio e algumas indústrias. Duas, pelo menos, de projeção internacional – a antiga Promeca, hoje Continental, e a KSB. Teve, e ainda tem, problemas de loteamentos, ocupações irregulares, falta de estrutura, mas aos poucos está entrando nos eixos. Ou melhor, nos trilhos.
Desse lado da estrada, a SPR deixou de ser SPR para se tornar Estrada de Ferro Santos a Jundiaí, pertencente à Rede Ferroviária Federal, que também já era. As linhas hoje nada mais são que um arremedo que foram, e são usadas pela CPTM. E muito mal.
Do outro lado, em outros trilhos, os da Companhia Paulista, Louveira cresceu muito e hoje tem o maior PIB da região. O que era desgraça – a cidade cortada ao meio pela Anhanguera – se tornou vantagem. Louveira tem muitas indústrias e empresas de logística. Os trens passam por lá vez ou outra, mas só com cargas.
A estação virou um lugar histórico, que a Prefeitura aproveita como pode como centro cultural e de lazer. E continua produzindo uva e caqui. É a única que tem projeto sustentável, dando incentivos a quem planta ou conserva áreas verdes, reaproveita água, usa energia solar…
Itupeva continuou agrícola por um bom tempo. Muitas indústrias foram atraídas por sua localização. Com a abertura da Rodovia dos Bandeirantes, a cidade ganhou dois parques, o Hopi Hari e o Wet´n Wild. Os trilhos da antiga Sorocabana foram arrancados, e a velha Maria Fumaça deixou de levar e trazer gente para lá. A antiga estação serviu de abrigo para a Prefeitura até recentemente.

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