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Jundiaí
sábado, 20 abril, 2024

Infindáveis mistérios formam a história de Jundiaí

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Data oficial é uma história, realidade é outra. Mais de trezentos anos se passaram, e afinal, quem teria fundado Jundiaí?

O dia 14 de dezembro de 1615 é a data oficial em que se iniciou o que hoje é a cidade de Jundiaí. Presume-se – e só se presume – que começou como um ponto de apoio aos bandeirantes, foi crescendo, ganhando importância, até que em 28 de março de 1865 tornou-se oficialmente uma cidade.
Cem anos após o descobrimento do Brasil, os portugueses se preocupavam em ocupar a terra que lhes pertencia, e assim, leva de aventureiros desembarcaram em terras tupiniquins. Junto com aventureiros vieram os jesuítas, os padres da Companhia de Jesus, preocupados em expandir seus domínios em nome da fé católica, apostólica e romana.
Para entender melhor: até 1889, Igreja e Estado se misturavam e o poder era dividido conforme as conveniências. Era uma tradição dos portugueses, país onde o catolicismo estava arraigado a ponto de padres e bispos receberem salários do governo. Registros de nascimento e casamento eram feitos nas paróquias, e os vigários eram autoridades de fato.
É preciso levar em conta também que Portugal e Espanha foram os países onde a Inquisição Católica mais atuou desde a criação do Tribunal Público contra a Heresia em Orleans (França) em 1022. Sendo o Brasil colonia portuguesa, a Inquisição também teve seus tribunais por aqui, perseguindo infiéis e mandando gente que não rezava para a cadeia.
Quando parte dos portugueses resolveu escravizar os índios, única mão de obra disponível antes do tráfico de negros africanos, os jesuítas foram contra e resolveram combater a prática. Para explorar a mata, procurar ouro e prender índios e transformá-los em escravos, criaram-se as bandeiras – nome dado às expedições enviadas ao interior, longe dos grandes centros, e que levavam à frente a bandeira portuguesa. Daí o termo bandeirantes.
Acontece que os jesuítas determinaram que isso era crime, o que acabou trazendo encrenca para os bandeirantes. É onde a história de Jundiaí começa a aparecer. São várias versões, difíceis de serem provadas – e então foi adotada a mais plausível: Rafael de Oliveira e Petronilha Antunes estariam se escondendo, vindo para cá, para não serem punidos pelos jesuítas do Páteo do Colégio por crime de bandeirantismo. Isso em 1615.
Como se consideravam desterrados, erigiram a capela dedicada à Nossa Senhora do Desterro, hoje padroeira da cidade. Mas há inconsistências na história. E uma segunda versão, a de que Jundiaí foi fundada por Rafael de Oliveira, o Moço, e sua mulher Maria Ribeiro. Essa versão não colou.
Há outras histórias, como a que os verdadeiros fundadores de Jundiaí passavam de 250 – dentre eles portugueses e índios já escravizados, que saíram de São Paulo com o propósito de fundar uma vila. Isso em 1640. E aí começam as inconsistências.
Há algumas citações históricas afirmando que a data da fundação de Jundiaí é 1639, mesmo ano em que Rafael de Oliveira, o Moço, e Maria Ribeiro se casaram. Nesse caso, o grupo estaria sob comando de Rafael.
Porém há documentos e testamentos que provam que Rafael de Oliveira, o Velho era mesmo bandeirante, e que em 1615 estaria numa bandeira no Sul do Brasil. Se estava no Sul, de fato, não poderia estar fundando Jundiaí.
Petronilha Antunes entra na história como? Bem, ela teria sido mulher de José de Camargo Antunes, um comerciante da Vila de São Paulo, que até então não era capital de nada. Rafael de Oliveira, o Velho, era seu compadre, e o casal o teria acompanhado em sua mudança para Jundiaí.
Teoria da conspiração: Rafael de Oliveira, o Velho, teria matado José Camargo Antunes e fugido para cá com a comadre Petronilha, e aqui deram início à cidade. Outra versão, citada pelo jornalista Benedito de Paula Certain, dá como certa a presença de outras personalidades antes de Rafael e Petronilha nessas paragens.
Certain cita documentos que provariam que Francisco Jorge e Pedro Gaia já tratavam, antes de 1615, de formar povoados além do Pico do Jaraguá, então uma espécie de limite natural de São Paulo. Pode ser – e tudo é hipótese – que Gaia e Jorge estavam formando acampamento para garimpeiros na região onde hoje está Cajamar. Acreditava-se que lá existia ouro.
Certain foi mais longe. Afirmara que Rafal de Oliveira, que viveu até 1648 foi vereador em São Paulo e se envolveu com algumas bandeiras, rumo ao Sul e a Minas Gerais. Documento prova que Rafael de Oliveira se casou com Catarina D’Orta em 1616. O que teria acontecido então? Teria ele, Rafael, fugido com Petronilha e depois voltado para casar com outra?
Antigos habitantes de Jundiaí – todos já mortos – teriam afirmado a seus filhos e netos que havia, na entrada da igreja dedicada à Nossa Senhora do Desterro, inscrições dando como fundadores de Jundiaí Rafael e Petronilha. Isso constaria também no Livro do Tombo da Cúria Metropolitana em São Paulo. Não dá para provar nada – a Cúria pegou fogo em 1848 e tudo foi pro beleléu.
Muitos documentos foram destruídos de propósito. A cidade teria sido povoada por criminosos e gente que afrontava a moral jesuíta, e era conhecida como terra de amantes, mulheres e homens traídos. Por conveniência, tudo o que provava alguma coisa foi destruído.
Em 1640 os jesuítas foram expulsos de São Paulo por grupo de fazendeiros, que entendia que os índios eram necessários para a região progredir. Como os jesuítas batiam o pé, os fazendeiros trataram de enxotá-los. Em represália, o Vaticano excomungou todos esses fazendeiros – e a excomunhão era a punição mais temida pela população carola da época.
Um historiador brasileiro Pedro Taques Pais Leme (1714 – 1777) se debruçou em documentos para escrever a origem de Jundiaí. Acabou produzindo um livro, Memórias de Jundiaí e foi mostrar ao rei português o que havia feito. Deu azar. Em 1757 houve um grande terremoto em Lisboa, que destruiu a cidade, e o livro foi perdido.
Quarenta anos depois (1655 – e estamos falando em datas oficiais) Jundiaí foi reconhecida e elevada à categoria de Vila, ganhando mais autonomia. Foi uma das primeiras. Antes dela só dois lugares tiveram tal reconhecimento: Mogi das Cruzes em 1611, e Santana do Parnaíba em 1625. Essa autonomia deu à cidade uma Câmara de Vereadores e um Cartório.
Resumindo tudo: quando Luiz Latorre foi prefeito (1952-1959), foi criada uma comissão para colocar fim às polêmicas. Feito o trabalho, a Prefeitura mandou imprimir um livro, Elementos para a História de Jundiaí, hoje quase desaparecido. Depois disso, os professores Nelson Foot e Armando Colaferri publicaram outro livro, Em Torno da Fundação de Jundiaí, que só reafirmou o que a tal comissão havia concluído.


Fotos do acervo do Professor Mauricio Ferreira

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