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sexta-feira, 19 abril, 2024

Letra ilegível: sério problema médico

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Uma das principais preocupações do século XXI é o processo de envelhecimento populacional que está impactando de forma assustadora os sistemas de saúde e de previdência social em todo mundo.
As estimativas revelam que no ano 2025 o Brasil terá a 6ª maior população de idosos do planeta, com todos os problemas que esse fato poderá trazer, se não tomarmos desde já medidas capazes de garantir a viabilidade desse futuro.
Esse envelhecimento acelerado e irreversível está trazendo como uma das consequências o rápido aumento das chamadas doenças crônicas degenerativas, como hipertensão arterial, diabetes, artroses, insuficiência cardíaca, insuficiência renal, as quais demandam tratamentos contínuos e vitalícios, com inúmeros medicamentos, exames e outros procedimentos.
É claro que pessoas acometidas dessas doenças necessitam de assistência médica frequente para acompanhamento de seus quadros clínicos e adequações em seus tratamentos, para que sigam suas vidas com o mínimo de qualidade desejável.
Esse acompanhamento, entretanto, para que seja feito de forma eficiente e eficaz, necessita de registros precisos e completos que constituem a história de saúde desses doentes permitindo a visualização da evolução do processo.
Aqui surge um grande problema, que a meu ver é uma vergonha para nós médicos: a letra ilegível e anotações incompletas.
Infelizmente não é raro que pessoas procurem um funcionário de uma Unidade de Saúde para ver se tem determinado medicamento receitado por um médico e ninguém na equipe consiga decifrar o que está escrito na receita!
Outras vezes um cliente que é acompanhado num serviço médico por um problema crônico há muito tempo, ao voltar em consulta com outro médico, esse é obrigado a repetir perguntas que o paciente já respondeu várias vezes e fica sem saber que medicamentos essa pessoa está tomando, ou que exames realizou, porque não existe qualquer registro desses procedimentos no prontuário desse paciente!
Registros médicos e receitas só tem sentido se puderem ser lidos e entendidos pelas pessoas a quem interessam. Isso é tão óbvio que o Código de Ética Médica diz que é proibido ao médico fazer anotações ilegíveis, sob pena de punições previstas nesse código.
Recentemente os meios de comunicação do País voltaram a esse assunto dizendo que os Conselhos seriam mais rígidos com esse problema, mas na prática o que se tem observado é que esses absurdos continuam sendo praticados com muita frequência e pouco tem sido feito em relação a eliminar definitivamente essa marca vergonhosa da nossa profissão.
Alguns estados brasileiros chegaram a elaborar leis com previsão de multas aos profissionais que não cumprissem essa determinação, mas, mesmo assim, o impacto ainda deixa a desejar.
Em 2006, um levantamento do National Academies of Science Institute of Medicine, nos Estados Unidos da America, revelou que cerca de 7 mil pessoas morrem por ano naquele país, vítimas de anotações médicas inadequadas.
Se alguém acha que essa é uma acusação mesquinha e sem fundamento contra minha própria classe profissional, informo que, em meu computador pessoal, tenho uma pasta específica com fotos de inúmeras receitas e prontuários médicos com alguns absurdos mais relevantes, inclusive com prontuários em que numa consulta existe carimbo e assinatura do médico sem qualquer anotação anterior!
Acredito que a população tem que aprender seus direitos e deveres e exigir de seus médicos anotações claras e precisas sobre suas condições de saúde.
 
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Medicina não é ciência exata e por isso necessita ainda mais de informações completas e organizadas para tomar decisões cuja falha pode acarretar em lesões ou até na morte de seres humanos.
Por isso, meu amigo, muito mais do que Conselhos ou governos, o principal interessado nesse problema é você e, portanto, é seu direito e dever exigir qualidade dos seus registros médicos e, se não for atendido, denunciar aos órgãos competentes, como você já aprendeu a fazer usando o PROCON quando se sente lesado em alguma transação comercial.
Afinal, sua vida e saúde são muito mais importantes que qualquer aparelho doméstico que não funcione, não é? Pense sobre isso.

por Antonio Monteiro,
médico preventivista e clínico geral
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