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quinta-feira, 28 março, 2024

O ambiente faz a pessoa ou as pessoas fazem o ambiente?

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Minha rotina de trabalho me faz visitar empresas, incluindo as grandes multinacionais. É comum, ao chegar nessas visitas, receber um resumo do código de ética ou uma série de normas de segurança que o visitante precisa seguir. Em algumas delas mais radicais, somente podemos permanecer dentro de suas instalações acompanhados por um colaborador que garanta a nossa conduta, mesmo no simples trajeto entre portaria e recepção. Tudo em nome de uma política do bem-estar.
Engraçado é que dentro da empresa, todos cumprem as regras. O motorista respeita a preferência do pedestre na faixa de segurança, para dentro da vaga, não invade estacionamentos especiais, não passa do limite de 20 Km/h, dirige usando o cinto de segurança e mantém as duas mãos no volante. Lá o cidadão é gentil com todos, não fuma em ambientes que não tem autorização, não olha maliciosamente (no sentido sexual) para os colegas (embora o faça disfarçadamente), não fura a fila do refeitório e, em alguns casos, não usa seu celular pessoal nem pra ver WhatsApp.
Então, o expediente termina e essa mesma pessoa sai sorridente, lentamente em seu possante e vagaroso carro, acenando aos colegas de profissão. Passa pela portaria e, ao virar a esquina, se transforma, acelerando, cortando as preferenciais, forçando ultrapassagens e estacionando em cima da calçada sob a justificativa que “não tinha outra vaga” ou que “era rapidinho”. Fora da empresa ele xinga a atendente da padaria, recebe troco a mais e fica quieto, joga as bituquinhas de cigarro na sarjeta e fura seus compromissos marcados com a direção da escola das crianças. Há um episódio em desenho animado do Pateta lá dos anos 50 que conta exatamente isso procurem no YouTube.
Certa vez o porteiro de uma empresa alemã, ao me cadastrar pela primeira vez como visitante, me deu a seguinte orientação: “aja como se estivesse na Alemanha”. Antes de me preocupar por não saber falar alemão, minha ficha caiu e eu entendi que não é só dentro das grandes empresas que as pessoas tem cidadania, mas em todos os ambientes onde entendem que se requer isso. Por este motivo que quando viajam, ficam “pianinho”, mas na volta, basta por o pé no aeroporto pra se sentirem em casa de novo e pensarem dar um jeito de burlar a Alfandega.
Fica apenas a reflexão para sabermos se é o ambiente que determina o comportamento de uma pessoa ou se é um grupo de pessoas que faz o ambiente. E a resposta certa pode ser qualquer uma das duas, afinal, é assim que se formam as tradições. Lembrando ainda que toda mudança de tradição dá trabalho nem sempre acontece de um dia para o outro.
Dentro das empresas, as pessoas não gritam, respeitam regras e horários, seguem normas e entendem que isso é bom para o coletivo. Fora dela, quando vão a algum lugar onde tem autoridade, aí surgem com as manias de grandeza e abusam das “carteiradas”. Enfim, dentro da multinacional, vivemos como se estivéssemos em território gringo. Lá é o mundo perfeito e fora… fora é o Brasil.

por Aguinaldo Oliveira 

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