Um mundo cada dia mais chato

Viver no mundo atual está difícil, complicado. Cada dia está mais chato. Cheio de proibições, de conceitos idiotas, de idéias de jerico. Há, por exemplo, uma recomendação não oficial, não escrita, para que se evite por aqui falar da tentativa de independência da Catalunha – poderia incentivar tentativa semelhante nos estados do Sul do Brasil. Uma teoria da conspiração digna de filme.
Fala-se em igualdade racial como se houvesse um muro a separar brancos e negros. Não se deve mais chamar negros de negros, e sim de afrodescendentes, como se, por analogia, os brancos também tivessem de ser chamados de eurodescendentes. Esqueceu-se o principal: todos são gente, todos são iguais, todos são mortais.
Inteligência, capacidade, caráter são coisas que independem de raça ou cor. Mas tem quem não entenda. Chegou-se a pensar em proibir livros de Monteiro Lobato porque em suas histórias havia referências que hoje não são politicamente corretas.
Desse jeito, logo o conhecido Preto Véio precisará ser chamado de Afrodescendente da Melhor Idade. Melhor Idade? Quem foi o idiota que cunhou esse rótulo para os que têm mais de 60 anos? Melhor Idade para que? Para comprar remédios para os males típicos da idade, para se queixar de dores e do desprezo dos jovens atuais, a maioria mal educada.
Criou-se a Lei Maria da Penha para proteger mulheres que são agredidas. Criou-se o feminicídio. Pura idiotice. Agressão é agressão e ponto final, sejam homens ou mulheres as vítimas. E vem mais asneiras por aí.
Fumar – não que seja bonito – está proibido de forma infantil. Proibir o cigarro em ambientes fechados é mais do que lógico e sensato. Mas acrescentar que é proibido fumar ao ar livre, sob alguma cobertura, é falta do que fazer. Criam-se neuroses, como se isso resolvesse problemas bem maiores.
Todos nós nos comovemos e nos chocamos quando um americano maluco (isso é que não falta por lá) matou 58 pessoas em Las Vegas e feriu mais de 500. Chocar por que? Por aqui, morrem três vezes mais pessoas vítimas de violência por dia. Morrem mais pessoas que no Iraque e Afeganistão somados. Mais que na Síria. E esses países estão em guerra não é de hoje.
Gravidez na adolescência é assunto esquecido – e jovens cada vez mais jovens – continuam parindo filhos sem pais. As drogas estão banalizadas. Maconha se tornou remédio (ou pelo menos querem que assim seja). Tudo é normal, aceitável e elogiado em novelas escritas por gente anormal.
Você pode matar – todo brasileiro tem direito a uma amostra grátis de homicídio. Basta ter residência fixa, ocupação lícita e não ter antecedentes. Você pode traficar. O tempo de cadeia é pequeno, mas o lucro é grande. Você pode assaltar e barbarizar famílias. Sempre haverá algum imbecil afirmando que você é vítima da sociedade.
Está difícil viver no meio dessa balbúrdia de idéias e conceitos. Os que já passaram dos 60 sabem que resta pouco tempo, mas pobres dos jovens que viverão bem pior do que os idosos de hoje. Se é que vão passar dos 30 ou 40, bem entendido.
Anselmo Brombal